Manifesto Comunista |
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Desta forma, 1847 seria o ano de fusão entre os justiceiros e os comunistas. A Liga dos Justiceiros convidou os Comitês de Correspondência para o seu congresso de verão deste ano, em Londres. Wolff, amigo de Marx, representou Bruxelas; e Engels, Paris. Em diversas sessões se discutiu aquilo que se passava a chamar genericamente de Nova Teoria, cuja centralidade partia da afirmação que não era o Estado que determinava a sociedade, mas sim o contrário. O Estado passava a ser classificado como um aparelho de governo e opressão a serviço das classes dominantes. Engels apresentou um texto didático, para discussão com os congressistas, utilizando uma exposição de questionário, onde formulava as perguntas sobre as idéias principais e ele mesmo respondia. Esse texto encontra-se publicado com o título de Princípios do comunismo.
Como resultado dos debates, os delegados tomaram duas medidas importantes. Uma, no plano estrutural da Liga; e, outra, no seu programa. A nova estrutura passou a ser constituída por instâncias democráticas, numa concepção formal muito parecida com as dos PCs do século vinte. Todavia, a nomenclatura era diferente. O seu fluxo organizacional compunha-se por seções, círculos, círculos dirigentes, direção central e congresso. As direções passaram a ser eleitas e revogáveis.
Essa ruptura determinou que fosse convocado imediatamente outro congresso, para decidir sobre os estatutos e aprofundar a questão teórica. O II Congresso foi marcado para os meses de novembro-dezembro, ainda em Londres, em 1847. A ele compareceu Marx. Estava com vinte e nove anos; e Engels, vinte e sete. Durante dez dias debateram prioritariamente a Nova Teoria. Marx centralizou as discussões e constituiu-se em um verdadeiro professor, proferindo, dia após dia, longas palestras.
O II Congresso aprovou o Estatuto e, sob a influência de Marx e Engels, mudou a sua divisa. A frase "Proletários de todos os países, uni-vos!" se transformaria em uma bandeira de utopia social, apesar dos crimes que viriam a ser cometidos sob seu estandarte. A viragem na Liga foi assinalada estaturiamente: "A Liga tem por finalidade a derrocada da burguesia, o domínio do proletariado, a supressão da velha sociedade burguesa, baseada nos antagonismos de classes, e a criação de uma nova sociedade, sem classes e sem propriedade privada". Com tal alteração, não tinha mais sentido manter o nome justiceiro. Então, o congresso adotou o de Liga dos Comunistas.
Os delegados encarregaram Marx e Engels de escrever um manifesto divulgando os princípios da nova teoria e as tarefas estrategicamente revolucionárias assumidas pela Liga reformada. Utilizando partes dos Princípios Comunistas, elaborado por Engels, Marx redigiu a obra hoje mundialmente conhecida como o Manifesto Comunista. Escrito em dezembro de 1847, foi publicado em janeiro de 1848. No mês seguinte foi deflagrada a Revolução de Fevereiro, que reinstaurou a República na França. A Liga expediu para Paris mil exemplares.
O texto anônimo, imediatamente, foi difundido também na Alemanha. Diversas organizações encontraram no Manifesto certas identificações com suas propostas. Rapidamente, as edições clandestinas se reproduziram. Entretanto, conforme o grupo que a imprimia, alterava o título. Os mais comuns, além do original da Liga, eram Voz do Comunismo, Declaração do Partido Comunista e a hilariante adaptação da edição polaca dos socialistas utópicos: A voz do povo é a voz de Deus.
Os
nomes dos autores foram revelados
apenas dois anos após, em
1850, pela revista Republicano Vermelho.
Possivelmente a história
do Manifesto seja uma das mais fantásticas
do mundo editorial. Demonstra inclusive
a quase impossibilidade de prever
os caminhos tomados por uma idéia.